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Dicionário da História do Estado Novo – Fernando Rosas e J.M. Brandão de Brito
LUTA ARMADA
Há, basicamente, duas possibilidades de tratar da questão da luta armada contra o Estado Novo: uma, considerando as tentativas protagonizadas por militares e que resultaram em golpes militares e pronunciamentos fracassados - o reviralhismo, de que aqui se não tratará -; a outra, a de considerar a luta armada como acções desencadeadas por grupos civis organizados de índole político-militar e que tiveram como objectivo essencial o desgaste da «retaguarda» do regime, a realização de iniciativas cuja natureza e carácter exemplar pudessem mobilizar a população contra o poder do Estado Novo ou a preparação de um levantamento armado.
É esta a concepção aqui abordada. A primeira das tentativas de organização de acções populares armadas contra o regime data dos anos de 1942-43 quando o MUNAF criou os Grupos Armados de Combate (GAC) que, no entanto, não desencadearam qualquer operação. As primeiras acções armadas contra o Estado Novo estiveram estritamente ligadas seja ao início da guerra colonial, em 1961 em Angola, seja à frustração decorrente do tipo de oposicionismo tradicional e do sistemático fracasso dos sucessivos golpes militares que diversos sectores da oposição ao regime iam organizando sem qualquer êxito.
É em nome da necessidade de romper com o «pacifismo» e o «Iegalismo» e de desencadear a luta popular armada que Francisco Martins Rodrigues, em finais de 1963, opera a primeira cisão de esquerda no PCP criando, no ano seguinte a Frente de Acção Popular (FAP) com o objectivo de lançar acções armadas. Mas a FAP será destroçada pela PIDE sem ter logrado nenhuma operação com significado. A primeira acção armada com real repercussão ocorreu em 1967, organizada pela Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR), com o assalto ao Banco de Portugal, na Figueira da Foz. A LUAR - cujo líder Hermínio da Palma Inácio, ex-militar da Força Aérea, tinha já desviado um avião da TAP, da linha Casablanca-Lisboa para lançar panfletos sobre a capital portuguesa, em 1961.
A LUAR, concretizará outras acções tanto no estrangeiro (assaltos a consulados portugueses para apropriação de passaportes, carimbos, etc.), como em Portugal, como foi o caso da fracassada tentativa de ocupação da cidade da Covilhã.
Também Camilo Mortágua, dirigente da LUAR havia já comparticipado, em Fevereiro de 1961, no assalto ao paquete Santa Maria, juntamente com Henrique Galvão e o militar republicano espanhol Alberto Bayo, a partir de Curaçao, navio de que se conseguiram apoderar durante alguns dias e que trouxe para as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo o primeiro acto de «pirataria política marítima». Nos inícios dos anos 70, a LUAR tentou novas acções mas a prisão de Palma Inácio e de outros militantes, que se encontravam detidos quando ocorreu o 25 de Abril, marcou o fim das suas iniciativas armadas.
Em 1970, após a ruptura entre o núcleo de Argel da Frente Portuguesa de Libertação (FPLN) e o , aquela organização declara apoiar as recém-criadas Brigadas Revolucionárias.
No mesmo ano surge a Acção Revolucionária Armada (ARA), subsidiária do e que homens como Jaime Serra, Francisco Miguel e Raimundo Narciso ajudaram a estruturar
A primeira das acções da ARA teve como objectivo a sabotagem do navio Cunene, utilizado no serviço de abastecimento das tropas coloniais; seguiu-se-Ihe o Vera Cruz.
Mas a acção mais espectacular da ARA seria levada a efeito contra a Base Aérea n.º 3, em Tancos, na qual ficaram destruídos 16 helicópteros e 11 aviões, o que causou 80 mil contos de prejuízo a preços da época.
A ARA viria ainda a sabotar a estação dos CTT que servia para apoiar a reunião ministerial da NATO que se realizou em Lisboa, em Junho de 1971. A partir de 1972, já com a ARA praticamente desmantelada pela polícia, o suspende as suas operações.
As Brigadas Revolucionárias, cuja liderança é atribuída geralmente a Carlos Antunes e Isabel do Carmo mas que actuava em conexão com sectores «católicos progressistas», viria no início da década de setenta a desenvolver um conjunto de acções das quais deverão salientar-se as seguintes: ataque às instalações da NATO na Fonte da Telha; ataques ao abastecimento eléctrico em alta tensão a Lisboa; atentados contra instalações militares, contra o Ministério das Corporações e a sede do Movimento Nacional Feminino; várias acções de propaganda com recurso a petardos; assalto aos Serviços Cartográficos do Exército e apoio à vigília anti-colonial realizada por católicos na . O geral destas acções armadas, como já atrás se escreveu, deverão ser enquadradas no contexto da luta contra a guerra colonial.
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